O pajé Davi Kopenawa Yanomami ganhou em 1989 o prêmio da ONU Global 500, porque ele lutou contra os garimpos ilegais no seu território, em Roraima. Hoje, 20 anos depois, o território demarcado dos Yanomami está novamente invadido pelos garimpeiros. Além disso, há uma outra ameaça: o novo projeto de lei para liberar a mineração nos territórios indígenas e o risco de mineração de urânio. A socióloga Márcia Gomes de Oliveira falou com Davi Kopenawa, atual presidente da Hutukara Associação Yanomami.
- Qual é a sua posição sobre o projeto de lei n. 1610 sobre a liberação de mineração em terra indígena.
A minha posição sobre mineração, eu sou contra, realmente contra a lei de mineração na Terra Yanomami. Os brancos ficam nos atacando.
- Tem outros Yanomami contra a mineração em sua terra?
Todo o Povo Yanomami está contra a mineração. Eu não sou sozinho não. Todo mundo, todo o Povo Yanomami que está lá na aldeia está com medo e revoltado para que não aconteça dentro da terra Yanomami a grande mineração.
Então, eu estou aqui em Boa Vista lutando pelo meu povo, para não acontecer a entrada da mineração na terra indígena, na terra demarcada, porque o minério é uma máquina muito grande. A mineração é tão grande, ela vai no fundo para buscar o minério, procurar o urânio.
- Na sua terra pode ter a maior jazida de urânio do mundo. Isso é que o Vilas Boas falou numa entrevista, divulgada pela TV em 2003 e 2008, que também está disponível na Internet até hoje. O Sr. já recebeu informações sobre o risco da mineração de urânio?
Não. Eu nunca recebi nenhuma informação de ninguém.
- O Sr. sabe o que é urânio? Alguém já informou ao Sr. e ao seu povo sobre os riscos da radioatividade?
Não. Ninguém nunca falou sobre isso. Eu nunca ouvi esta palavra "radioatividade". Realmente esta informação nunca chegou por aqui. Nenhum pesquisador e ninguém do governo. Eu não sei o que é isso.
- Mas o Sr. sabe sobre a força que tem embaixo da terra?
Então, a mineração vai tirar a força da terra, este minério que está embaixo da terra, urânio, ouro, diamante e outras pedras preciosas, eles são aliados da terra, com água, protegidos. Se a mineração entrar na terra, lá embaixo, fazendo buraco, a terra vai ficar doente, a terra fica fraca e vai começar a cair, demolição, morrer muita gente. É assim que eu conheço, é assim que eu aprendi com o estudo do pajé, tradicional: não pode mesmo! Porque este minério fica guardado, respeitado, não mexe! Não mexer mesmo, porque ali é sagrado! Sagrado para salvar vidas, a vida deste planeta!
- Então o Sr., sem conhecer a palavra radioatividade, sabe que existe uma energia que quando mexe com ela gera doença?
Certo! Gera doença mesmo! A doença que está lá embaixo da terra. A doença que nunca conhecemos. Nem branco, nem médico conhece. A doença que está escondida lá embaixo. A doença vai sair para fora e todo mundo vai ficar doente! A criança vai adoecer. A criança vai nascer morta, torta, sem cabeça. Então toda mulher vai sofrer muito, junto com o homem! Por isso não pode mexer não!
É exatamente o que a radioatividade faz, crianças nascem deformadas. É exatamente o que o Sr. falou.
É assim que eu aprendi com o meu chefe-liderança da aldeia. Porque chefe que a gente fala é como um pajé grande! Ele conhece o estudo debaixo da terra, o encontro da chuva, das águas e da terra. Então ali, aonde o urânio fica é o olho central, central da água e que a gente toma banho, que a gente usa, usa tudo, na casa.
- Essa sabedoria, o Sr. sabe como pajé. O Sr. nunca ouviu pesquisadores ou pessoas do governo explicando nada sobre isso?
Os pesquisadores, o governo, nunca me procuraram, nunca conversaram comigo. Nunca perguntou se é perigoso, se é bom para usar ou não, mas assim mesmo eu sei que não pode!
- O Sr. e o povo Yanomami lutam contra qualquer mineração nas terras indígenas. Existem lideranças de outros povos indígenas em favor da mineração?
Os Yanomami, Sanumá, Tekuana, Xamatari do Brasil são contra a mineração na terra Yanomami. Nós, indígenas, tradicionalmente que mora na terra sagrada, nós não queremos que aconteça a entrada da mineração no coração da terra. Mas outras lideranças que vivem na cidade, que gostam de receber dinheiro, que gostam de usar dinheiro, lideranças de fora que também participam com político, eles querem a mineração.
Até porque todos estes problemas graves com a mineração, especialmente a mineração de urânio com a radioatividade, as lideranças em favor da mineração não conhecem o risco que ela é para a vida, para gerações e gerações.
Até os brancos não conhecem. O branco nunca trabalhou grande mineração. Então, eu, pajé yanomami, estou acompanhando longe esta lei da mineração. A mineração não é boa. Mineração não vai trazer benefício para o povo, para ninguém! Só vai trazer a doença, só vai trazer a violência, problema e tudo que não presta!
- Em fevereiro de 2008, a sua organização Hutukara Associação Yanomami denunciou a postura de deputados federais durante uma visita da Comissão Especial de Mineração da Câmara dos Deputados às aldeias Yanomami. É verdade que os deputados querem levar lideranças indígenas para o Canadá ou Austrália para conhecer a mineração nas terras indígenas de lá? Esta viagem já aconteceu?
Deputados e senadores, parlamentares, eles fizeram uma viagem em Boa Vista e Awari. Eles foram lá para enganar nós, mas nós não deixamos eles enganar nós. Então, eles prometeram para nós lideranças Yanomami, Macuxi, Ingarikó e outras lideranças, que iria levar nós lá no Canadá para poder ver, para conhecer a mineração, aonde eles estão tirando, destruindo, mas isso não aconteceu não.
- E o Sr. sabe quem está por trás, forçando o projeto de lei, neste momento?
Quem está a favor da mineração são os deputados que estão em Brasilia, os senadores, Romero Jucá Filho e o José Sarney que foi Presidente do Brasil. Então esse grupo está lutando para poder deixar entrar mineração na terra indígena Yanomami e outras terras, todas demarcadas, para poder destruir a natureza, destruir a nossa saúde, toda a cultura, tudo isso. O Romero Jucá foi presidente da FUNAI para proteger, para ajudar povos indígenas do Brasil.
O Senador Jucá foi Governador de Roraima, nomeado por José Sarney.
Primeiro ele foi Presidente da FUNAI, quando ele saiu da FUNAI ele foi para Boa Vista e virou Governador de Roraima.
- Quando Jucá foi Governador, ele já atuava contra os povos indígenas?
Ele já era contra antes. Foi ele que empurrou grandes garimpeiros na terra Yanomami. Em 1986, ele foi presidente da FUNAI e deixou o garimpeiro na minha terra, foi ele que matou o povo Yanomami!
E até hoje ele não foi responsabilizado por isso. Ao contrário, em 2006, o Senador Romero Jucá Filho foi escolhido pelo Presidente Lula vice-líder do Governo no Senado e, em março de 2007, ganhou por designação do Presidente da República o cargo de líder do Governo no Senado.
Até hoje não mudou nada. Ele continua lutando, continua falando para deixar entrar mineração: "Vamos tirar a riqueza da terra antes de chegar os americanos!" Mas eu vou continuar lutando, fazendo barulho. Denunciando para os brancos entenderem! Eu não vou ficar calado não! Muita gente que vê uma terra grande e pouco índio, diz que índio não faz nada, mas isso aí a gente fala diferente. Nós Yanomami pensamos diferente. Nós Yanomami pensamos como nós nascemos, como nosso pai protegeu nosso lugar para poder caçar, trabalhar e viver. O nosso rei chama Omamy. Omamy que deixou esta floresta para os índios viverem. Mas viver de uma maneira, não queremos viver assim como vivem na cidade. Para nós índios, a nossa casa é a floresta, a terra é para os Yanomami e outros parentes. Então, eu estou defendendo a propriedade nossa, aonde a gente nasce, cresce, vive, cuida e preserva.
Esta luta não é fácil.
Os políticos são muito perigosos, são poderosos, é preciso ter coragem para enfrentar esse homem branco não deixar o povo estragar. É uma luta muito, muito difícil, é uma cobra grande, uma cobra gigante! O homem da floresta precisa ser corajoso para poder falar de verdade! Porque o homem branco quer dominar nós, quer enganar nós. Mas hoje em dia nós estamos aprendendo a responder, aprendendo a brigar, fazendo divulgar aí com os jornalistas. Vocês jornalistas estão ajudando e eu quero que vocês ajudem nós! Eu quero que vocês fiquem do lado da gente para divulgar tudo o que nós estamos fazendo.
A entrevista é de Márcia Gomes de Oliveira e Norbert Suchanek e publicada por EcoDebate, 30-09-2009.
quarta-feira, 30 de setembro de 2009
terça-feira, 22 de setembro de 2009
fogo na casa dos outros é refresco: o extermíndio é assim
Aldeia Guarani, desocupada recentemente por ordem judicial, foi queimada na madrugada do dia 15.09 em Rio Brilhante, MS.
O dia amanheceu cinzento. Talvez pelas cinzas dos casebres de sape e das memórias dos índios Guarani e Kaiowá da Laranjeira Ñanderu de Rio Brilhante, MS. O extermíndio continua. Diante da situação atual de Mato Grosso do Sul frente às demarcações de terras indígenas, tocar fogo na casa dos outros é literalmente um refresco ou um pseudo-alívio.
Há quase dois anos os indígenas Guarani e Kaiowá homens, mulheres, crianças e idosos oriundos da região retornaram na busca de seu Tekoha (Território Tradicional). Nas imediações do município de Rio Brilhante, encontraram um pouco do que restou de mata e dos rios e muito de sua história.
Para a preservação e conservação dos recursos naturais é interessante que as comunidades tradicionais continuem nas áreas de reserva verde posto que a afinação desses povos com a natureza é reconhecida e por não se tratar de comunidades ocidentais que estão submetidas ao sistema capitalista, o consumo fútil, supérfluo, evitável, passa bem longe. Portanto, o respeito ao meio ambiente era garantido.
Enfim, no dia 11 de setembro de 2009, os índios deixaram as suas casas de sapé, os seus animais, muitos de seus pertences, de suas lembranças e de suas histórias vivenciadas para o lado de dentro da porteira do Português. Mas nesse mesmo dia, foi verbalizado um acordo entre as lideranças , a comunidade da Laranjeira Ñanderu e a Polícia Federal de que como os indígenas havia cumprido com a lei, de boa fé, dentro do prazo, eles teriam um prazo ampliado para retirarem as estruturas de suas casas. Madeira e Sape. E a garantia de que elas permaneceriam lá.
Esse poderia ter sido um recomeço. Certo que “trocaram” a mata pela estridente rodovia que beira o acampamento dos Guarani e Kaiowá, mas poderiam em vez de barracas de lona, manterem suas casas de sapé; poderiam ter onde rezar e onde se reunir. Poderia ter sido um – outro – recomeço, mas não foi.
Os atuais proprietários da fazenda onde os indígenas moram na frente afirmaram desconhecer tal acordo, e portanto, como a justiça estava ao lado deles, queimaram as casas que estavam levantadas da porteira para dentro. Ah, como estava dizendo, eles queimaram as casas que estavam dentro da mata (20% de Reserva Legal?), perto do rio (Que feio!). Tudo isso, e além de tudo, na era do aquecimento global.
Mas nem precisa ir tão longe. Aquela área construída pelas mãos de índios e índias, onde as rezas ecoaram céu afora, no estado das pré-coisas, está queimada. Destruídas por uma máquina e queimada por seres humanos. E assistida, de fora, por outros seres humanos.
Estes outros, claro, são os Guarani. Eles assistiram do lado de lá da cerca, da beira da rodovia as suas casas serem queimadas. Os restos materiais de sua estadia ali e todos os seus bens simbólicos. Todos os momentos de alegria, de tristeza, de união, de luta. Tudo queimado. Imagine se fosse você, caro leitor, que vivenciasse os seus sonhos por meio das chamas. Que observasse a sua vida tilintar nas labaredas da ganância. Deve ser muito doloroso.
É no meio de tanta dor, medo, desespero que o Grande Povo resiste. É da dor que eles tiram força para continuar, para não desistir, para seguir em frente na busca de um mundo real onde o direito a diferença dentro da igualdade seja respeitado. É frente a tantos fantasmas que insistem e retornam, ao repeteco de cenas já vistas antes que os Guarani resistem. Quantos ainda terão que sofrer, morrer para que a justiça seja feita? Até quando tanta impunidade?
Canta Guarani que seu canto será ouvido. Chega de ignorar os direitos humanos. Demarcações Já!
Por Lauriene Seraguza
O dia amanheceu cinzento. Talvez pelas cinzas dos casebres de sape e das memórias dos índios Guarani e Kaiowá da Laranjeira Ñanderu de Rio Brilhante, MS. O extermíndio continua. Diante da situação atual de Mato Grosso do Sul frente às demarcações de terras indígenas, tocar fogo na casa dos outros é literalmente um refresco ou um pseudo-alívio.
Há quase dois anos os indígenas Guarani e Kaiowá homens, mulheres, crianças e idosos oriundos da região retornaram na busca de seu Tekoha (Território Tradicional). Nas imediações do município de Rio Brilhante, encontraram um pouco do que restou de mata e dos rios e muito de sua história.
Para a preservação e conservação dos recursos naturais é interessante que as comunidades tradicionais continuem nas áreas de reserva verde posto que a afinação desses povos com a natureza é reconhecida e por não se tratar de comunidades ocidentais que estão submetidas ao sistema capitalista, o consumo fútil, supérfluo, evitável, passa bem longe. Portanto, o respeito ao meio ambiente era garantido.
Enfim, no dia 11 de setembro de 2009, os índios deixaram as suas casas de sapé, os seus animais, muitos de seus pertences, de suas lembranças e de suas histórias vivenciadas para o lado de dentro da porteira do Português. Mas nesse mesmo dia, foi verbalizado um acordo entre as lideranças , a comunidade da Laranjeira Ñanderu e a Polícia Federal de que como os indígenas havia cumprido com a lei, de boa fé, dentro do prazo, eles teriam um prazo ampliado para retirarem as estruturas de suas casas. Madeira e Sape. E a garantia de que elas permaneceriam lá.
Esse poderia ter sido um recomeço. Certo que “trocaram” a mata pela estridente rodovia que beira o acampamento dos Guarani e Kaiowá, mas poderiam em vez de barracas de lona, manterem suas casas de sapé; poderiam ter onde rezar e onde se reunir. Poderia ter sido um – outro – recomeço, mas não foi.
Os atuais proprietários da fazenda onde os indígenas moram na frente afirmaram desconhecer tal acordo, e portanto, como a justiça estava ao lado deles, queimaram as casas que estavam levantadas da porteira para dentro. Ah, como estava dizendo, eles queimaram as casas que estavam dentro da mata (20% de Reserva Legal?), perto do rio (Que feio!). Tudo isso, e além de tudo, na era do aquecimento global.
Mas nem precisa ir tão longe. Aquela área construída pelas mãos de índios e índias, onde as rezas ecoaram céu afora, no estado das pré-coisas, está queimada. Destruídas por uma máquina e queimada por seres humanos. E assistida, de fora, por outros seres humanos.
Estes outros, claro, são os Guarani. Eles assistiram do lado de lá da cerca, da beira da rodovia as suas casas serem queimadas. Os restos materiais de sua estadia ali e todos os seus bens simbólicos. Todos os momentos de alegria, de tristeza, de união, de luta. Tudo queimado. Imagine se fosse você, caro leitor, que vivenciasse os seus sonhos por meio das chamas. Que observasse a sua vida tilintar nas labaredas da ganância. Deve ser muito doloroso.
É no meio de tanta dor, medo, desespero que o Grande Povo resiste. É da dor que eles tiram força para continuar, para não desistir, para seguir em frente na busca de um mundo real onde o direito a diferença dentro da igualdade seja respeitado. É frente a tantos fantasmas que insistem e retornam, ao repeteco de cenas já vistas antes que os Guarani resistem. Quantos ainda terão que sofrer, morrer para que a justiça seja feita? Até quando tanta impunidade?
Canta Guarani que seu canto será ouvido. Chega de ignorar os direitos humanos. Demarcações Já!
Por Lauriene Seraguza
quinta-feira, 10 de setembro de 2009
ação urgente: comunidade indígena ameaçada de despejo
Cerca de 130 Guarani Kaiowá indígenas do sudoeste do Brasil estão em risco iminente de despejo de suas terras ancestrais. Eles têm pouca opção além de viver à beira de uma estrada, sem acesso à água ou terra para plantarem.
Trinta e cinco famílias Guarani Kaiowá, incluindo cerca de 60 crianças devem ser expulsos da terra Laranjeira Ñanderu no Mato Grosso do Sul. A terra está em processo de identificação - o primeiro passo no caminho para o reconhecimento legal dos direitos indígenas sobre suas terras ancestrais. A identificação deveria ter ocorrido em 2008, mas tem sido repetidamente suspensa pelos tribunais a partir de ações judiciais dos fazendeiros locais.
A comunidade Guarani Kaiowa reocupou uma pequena parte de suas terras ancestrais no final de 2007, após o Ministério da Justiça, Ministério Público Federal e a Funai assinarem um acordo para identificar 36 terras indígenas, incluindo a Laranjeira Ñanderu. Desde então, o proprietário do terreno tenta expulsar o grupo antes que a terra seja identificada – uma etapa que consolidaria a demanda dos indígenas. Os Guarani Kaiowá praticamente não têm opções de abrigo para onde ir, no caso de serem expulsos. Resta como alternativa criar um acampamento improvisado à margem da rodovia BR 163, que corta suas terras ancestrais. Eles devem ir para uma faixa de cinco metros de sujeira, encravada entre fazendas vigiadas por guardas de segurança e uma estrada com intenso tráfego de veículos carregados de mercadorias - um ambiente perigoso, sem acesso à água, nem a terra para plantarem.
Quando comunidade enfrentou o despejo pela primeira vez em dezembro de 2008, o líder comunitário Farid Mariano disse ao Ministério Público Federal: "Se tivermos que sair, não temos para onde ir - só se for para a beira da estrada ... eles podem nos expulsar, mas índios vão morrer: as pessoas correm mais, crianças doentes, do suicídio. "Outro membro da comunidade, Dona Nirda, acrescentou:" Se nós fomos para a beira da estrada ... não há água lá ... e haverá bebês pequenos e idosos. Não podemos deixar este lugar – as crianças estão matriculadas na escola local. Não há lugar para irmos. "
Trinta e cinco famílias Guarani Kaiowá, incluindo cerca de 60 crianças devem ser expulsos da terra Laranjeira Ñanderu no Mato Grosso do Sul. A terra está em processo de identificação - o primeiro passo no caminho para o reconhecimento legal dos direitos indígenas sobre suas terras ancestrais. A identificação deveria ter ocorrido em 2008, mas tem sido repetidamente suspensa pelos tribunais a partir de ações judiciais dos fazendeiros locais.
A comunidade Guarani Kaiowa reocupou uma pequena parte de suas terras ancestrais no final de 2007, após o Ministério da Justiça, Ministério Público Federal e a Funai assinarem um acordo para identificar 36 terras indígenas, incluindo a Laranjeira Ñanderu. Desde então, o proprietário do terreno tenta expulsar o grupo antes que a terra seja identificada – uma etapa que consolidaria a demanda dos indígenas. Os Guarani Kaiowá praticamente não têm opções de abrigo para onde ir, no caso de serem expulsos. Resta como alternativa criar um acampamento improvisado à margem da rodovia BR 163, que corta suas terras ancestrais. Eles devem ir para uma faixa de cinco metros de sujeira, encravada entre fazendas vigiadas por guardas de segurança e uma estrada com intenso tráfego de veículos carregados de mercadorias - um ambiente perigoso, sem acesso à água, nem a terra para plantarem.
Quando comunidade enfrentou o despejo pela primeira vez em dezembro de 2008, o líder comunitário Farid Mariano disse ao Ministério Público Federal: "Se tivermos que sair, não temos para onde ir - só se for para a beira da estrada ... eles podem nos expulsar, mas índios vão morrer: as pessoas correm mais, crianças doentes, do suicídio. "Outro membro da comunidade, Dona Nirda, acrescentou:" Se nós fomos para a beira da estrada ... não há água lá ... e haverá bebês pequenos e idosos. Não podemos deixar este lugar – as crianças estão matriculadas na escola local. Não há lugar para irmos. "
quinta-feira, 3 de setembro de 2009
lição para a sociedade civilizada
Durante a longa permanência entre os índios, a única contribuição que talvez lhes tenhamos dado, foi mostrar aos civilizados que o índio brasileiro não é um selvagem agressivo e destruidor. Nós trouxemos a notícia de que eles constituem uma sociedade tranqüila, alegre. Ali, ninguém manda em ninguém. O velho é dono da história; o índio, dono da aldeia e a criança, dona do mundo. Nesse tempo todo em que vivemos perto deles, nunca assistimos a uma discussão, a uma desavença na aldeia ou a uma briga de marido e mulher. Se a criança faz alguma coisa que o pai desaprova, ele não a repreende. Apenas a tira de onde está e a leva para outro lugar. É admirável, também, o respeito que os pequenos têm pela natureza, valor que adquirem observando o comportamento dos mais velhos.
O chefe, ou cacique, é o líder cultural da aldeia. Ele goza de muitas prerrogativas, mas deve observar uma série de restrições: não pode falar alto, nem rir ou fazer gestos bruscos, por exemplo. Sua função não é impor regulamentos nem determinar tarefas, mas estabelecer uma ligação entre a comunidade e os pajés que se reúnem todas as tardes para conversar, fumar e deliberar sobre o bom andamento da tribo. O cacique não participa da conversa. Apenas ouve o que está sendo dito e na manhã seguinte, segurando o arco numa das mãos, dirige-se ao povo que se junta diante de sua maloca para escutar as recomendações dos pajés e, em seguida, colocá-las em prática. Supostamente os pajés nunca erram porque não têm outra preocupação além de ficar zelando pelo bem-estar da comunidade.
Orlando Villas Boas
O chefe, ou cacique, é o líder cultural da aldeia. Ele goza de muitas prerrogativas, mas deve observar uma série de restrições: não pode falar alto, nem rir ou fazer gestos bruscos, por exemplo. Sua função não é impor regulamentos nem determinar tarefas, mas estabelecer uma ligação entre a comunidade e os pajés que se reúnem todas as tardes para conversar, fumar e deliberar sobre o bom andamento da tribo. O cacique não participa da conversa. Apenas ouve o que está sendo dito e na manhã seguinte, segurando o arco numa das mãos, dirige-se ao povo que se junta diante de sua maloca para escutar as recomendações dos pajés e, em seguida, colocá-las em prática. Supostamente os pajés nunca erram porque não têm outra preocupação além de ficar zelando pelo bem-estar da comunidade.
Orlando Villas Boas
terça-feira, 1 de setembro de 2009
gripe suína atinge índios de aldeia dentro da cidade de São Paulo
Gripe suína atinge índios de aldeia dentro da cidade de São Paulo
O vírus da gripe suína já contaminou pelo menos oito índios que vivem na aldeia guarani Tenondé Porã, que fica no bairro de Parelheiros, na zona sul da capital paulista.
Segundo o médico Robério Carneiro, responsável pela Unidade Básica de Saúde Vera Poty, situada dentro da aldeia, o primeiro caso de gripe suína entre os índios foi diagnosticado na primeira quinzena de agosto.
De lá para cá, segundo ele, “outros sete casos foram confirmados, três deles em um intervalo de cinco dias”.
A Tenondé Porã é uma das três aldeias indígenas que ficam dentro do município de São Paulo.
Não se sabe ao certo como a doença chegou ao local. Uma possível justificativa seria o contato com não indígenas durante visitas aos familiares e amigos em outras comunidades.
“O vírus A H1N1 foi diagnosticado em uma criança vinda da aldeia do Jaraguá para a de Parelheiros” , explica Carneiro.
O médico afirma que todos os casos registrados ocorreram em crianças e foram tratados com sucesso, mas diz que o vírus continua circulando pela aldeia, que tem cerca de 700 habitantes.
O vírus ainda está circulando pela aldeia. Gostaríamos que as autoridades interviessem neste caso. O posto de saúde espalhou folhetos e cartazes pela comunidade contendo explicações sobre como evitar a contaminação pelo vírus, medidas preventivas também estão sendo tomadas na escola que fica dentro da aldeia.
A professora Maria José de Lima, que dá aulas para crianças entre 10 e 12 anos, afirma que explicou a seus alunos a importância de medidas como cobrir a boca ao tossir e espirrar e lavar as mãos constantemente.
“Nós conversamos sobre a gripe e pedi a eles que ilustrassem o que tinham entendido. O resultado foi satisfatório”, disse Lima à BBC Brasil.
Para tentar evitar que a doença se espalhe para outras comunidades, outra medida foi adotada pela liderança da aldeia.
“Avisamos às famílias para não saírem da aldeia até que o problema seja controlado”, diz o cacique Timóteo Verá Popyguá
Índios Online
O vírus da gripe suína já contaminou pelo menos oito índios que vivem na aldeia guarani Tenondé Porã, que fica no bairro de Parelheiros, na zona sul da capital paulista.
Segundo o médico Robério Carneiro, responsável pela Unidade Básica de Saúde Vera Poty, situada dentro da aldeia, o primeiro caso de gripe suína entre os índios foi diagnosticado na primeira quinzena de agosto.
De lá para cá, segundo ele, “outros sete casos foram confirmados, três deles em um intervalo de cinco dias”.
A Tenondé Porã é uma das três aldeias indígenas que ficam dentro do município de São Paulo.
Não se sabe ao certo como a doença chegou ao local. Uma possível justificativa seria o contato com não indígenas durante visitas aos familiares e amigos em outras comunidades.
“O vírus A H1N1 foi diagnosticado em uma criança vinda da aldeia do Jaraguá para a de Parelheiros” , explica Carneiro.
O médico afirma que todos os casos registrados ocorreram em crianças e foram tratados com sucesso, mas diz que o vírus continua circulando pela aldeia, que tem cerca de 700 habitantes.
O vírus ainda está circulando pela aldeia. Gostaríamos que as autoridades interviessem neste caso. O posto de saúde espalhou folhetos e cartazes pela comunidade contendo explicações sobre como evitar a contaminação pelo vírus, medidas preventivas também estão sendo tomadas na escola que fica dentro da aldeia.
A professora Maria José de Lima, que dá aulas para crianças entre 10 e 12 anos, afirma que explicou a seus alunos a importância de medidas como cobrir a boca ao tossir e espirrar e lavar as mãos constantemente.
“Nós conversamos sobre a gripe e pedi a eles que ilustrassem o que tinham entendido. O resultado foi satisfatório”, disse Lima à BBC Brasil.
Para tentar evitar que a doença se espalhe para outras comunidades, outra medida foi adotada pela liderança da aldeia.
“Avisamos às famílias para não saírem da aldeia até que o problema seja controlado”, diz o cacique Timóteo Verá Popyguá
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