quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Líder que levou o Google a aldeias indígenas denuncia sofrer ameaças de morte

Pouco conhecido no Brasil, mas premiado internacionalmente por aliar tecnologia e tradição no combate a crimes ambientais em uma parceria inédita com o Google, o chefe indígena Almir Narayamoga Suruí foi incluído recentemente em um programa de proteção do governo federal após ser ameaçado de morte. Almir, 37, é líder dos índios suruís, que habitam as Terras Indígenas Sete de Setembro, uma área de aproximadamente 250 mil hectares, entre o sudeste de Rondônia e noroeste de Mato Grosso, que abriga unidades de conservação e cerca de 1.300 habitantes. Ele ganhou prestígio internacional ao conquistar prêmios por sua luta em defesa dos direitos dos povos indígenas. Em 2008, recebeu em Genebra, na Suíça, o prêmio da Sociedade Internacional de Direitos Humanos, organização que atua em 26 países e reconhece anualmente figuras de destaque na luta pelos direitos humanos. Em 2000, o ganhador foi o Prêmio Nobel da Paz dalai lama. Em maio deste ano, Almir foi eleito pela revista norte-americana “Fast Company” uma das 100 pessoas mais criativas do mundo, ficando na 53ª posição, à frente do bilionário brasileiro Eike Batista, que figurava na lista em 58º lugar. Mas o reconhecimento se deu, principalmente, pela parceria que o líder indígena fechou em 2007 com o Google. Durante uma viagem a São Francisco, nos Estados Unidos, ele decidiu visitar a sede da empresa e conseguiu convencer os americanos a levar a internet à sua tribo e assim dar maior visibilidade aos problemas dos suruís. Munido de computadores e smartphones, ele ensinou toda a população da aldeia a usar a tecnologia a favor do meio ambiente. A partir disso, os índios criaram na internet um mapa cultural com a história e a tradição do povo, além de um mapa geográfico montado com ajuda de ferramentas como o Google Earth e o GPS. Estes mecanismos permitem que eles apontem, por exemplo, áreas invadidas por madeireiros, chamando a atenção de autoridades e otimizando campanhas de reflorestamento e combate ao desmatamento na região. “Começamos uma campanha entre nosso povo para impedir o roubo ilegal de madeira. Capacitamos as pessoas para serem agentes ambientais indígenas, que passaram a fazer vigilância para proteção da floresta. Isto fez com que vários madeireiros parassem de ganhar dinheiro ilegal, o que os deixou com raiva. Eles acham que me matando estará tudo resolvido, mas estão enganados, pois não sou o único que defende a floresta. Estou ameaçado, mas confiante de que existe uma consciência coletiva na terra indígena”, afirmou Almir. Tamanhas visibilidade e eficiência não passaram batidas pelos criminosos do Norte do Brasil. Após denunciar que estaria sendo ameaçado por um grupo formado por madeireiros e índios cooptados por pessoas interessadas em explorar ilegalmente a região, o líder indígena foi incluído em julho deste ano no Programa de Proteção aos Defensores dos Direitos Humanos, da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República. “Eles mandam recados ameaçadores, dizendo que têm uma lista de indígenas para morrer e que eu sou o primeiro”, disse Almir em entrevista ao UOL Notícias. Investigação De acordo com a Equipe de Conservação da Amazônia - ACT Brasil, organização que intermediou a parceria entre Almir e o Google, o número de índios suruís aliciados por madeireiros tem aumentado consideravelmente, colocando em risco a unidade do povo, a proteção da terra e sua sustentabilidade. “Além das promessas de dinheiro fácil, eles oferecem bebidas alcoólicas e buscam se inserir no espaço indígena por meio da tentativa de envolvimento com jovens indígenas”, destaca a organização em sua página na internet. Segundo a assessoria de imprensa da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, as denúncias de Almir foram levadas à Funai (Fundação Nacional do Índio) e ele será constantemente monitorado por uma equipe técnica que fará visitas periódicas em seu local de atuação. Além disso, a Polícia Federal informou que abriu inquérito para investigar a existência das ameaças de morte, e o Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) disse que mantém uma operação permanente de combate à extração ilegal de madeira na região, chamada de “Operação Arco de Fogo”. “Agora me sinto mais protegido. A Secretaria de Direitos Humanos está com um trabalho de proteção e estamos o tempo todo em contato”, disse Almir. Mesmo assim, o perigo é constante. Segundo o relatório “Violência Contra os Povos Indígenas no Brasil – 2010”, divulgado no final de junho, pelo menos 60 indígenas foram assassinados no país no ano passado. De acordo com o levantamento, mais da metade dos homicídios ocorreu no Mato Grosso do Sul. O Estado também registrou o maior percentual de ameaças e tentativas de assassinatos notificados pelos pesquisadores.