segunda-feira, 24 de setembro de 2012
Xinguanos participam de feira de sementes tradicionais em aldeia kayapó
A I Feira Mebengokré de Sementes Tradicionais reuniu indígenas de 15 etnias diferentes para promover intercâmbio e fortalecer a cultura. O encontro aconteceu na aldeia Moikarakô, na Terra Indígena Kayapó
Os Kayapó realizaram a I Feira Mebengokré de Sementes Tradicionais, na aldeia Moikarakô (PA), na Terra Indígena (TI) Kayapó, entre 3 e 7/9. O evento contou com trocas de sementes, mesas redondas, oficinas e apresentações culturais.
O objetivo foi promover um intercâmbio para fortalecer a cultura, a tradição, os laços entre os povos indígenas, sua autonomia e soberania alimentar por meio da circulação de plantas e sementes.
Cerca de mil indígenas, de mais de 30 aldeias kayapó, e voluntários não indígenas colaboraram na organização da feira, promovida pela Associação Floresta Protegida. Outros 110 indígenas de 28 aldeias e 15 povos distintos do Brasil estiveram presentes, abrangendo quase todas as regiões do País.
Entre os convidados, dois povos do Parque Indígena do Xingu (PIX): os Kawaiwete, das aldeias Ilha Grande, Kwaryja, Capivara e Tuiararé, e os Kisêdjê, da aldeia Ngojhwere. Também estiveram presentes cerca de 100 representantes não indígenas de diversas organizações da sociedade civil e do governo que trabalham no tema.
Além das trocas de conhecimentos, técnicas, experiências, histórias, cantos, ritos e comidas, as mesas redondas debateram a conservação e o uso da agrobiodiversidade, políticas públicas ligadas à produção de alimentos, assistência técnica e extensão rural e desafios e estratégias ante os grandes empreendimentos no entorno das Terras Indígenas.
A comitiva xinguana, junto com técnicos do ISA, apresentou a experiência da Rede de Sementes do Xingu no PIX durante a mesa redonda que discutiu experiências produtivas para a geração de renda.
A experiência da rede atraiu bastante atenção, especialmente dos anfitriões. O coordenador adjunto do Programa Xingu, Rodrigo Junqueira, iniciou a apresentação resgatando o histórico de ocupação e produção agropecuária no entorno do PIX e a demanda das lideranças indígenas para a recuperação das nascentes do Rio Xingu, que desencadeou a “necessidade de ensinar o fazendeiro a plantar floresta” e, consequentemente a criação da Rede de Sementes do Xingu.
A coletora Kunhakate Kaiabi, da aldeia Tuiararé, neta do grande pajé Ipepori Kaiabi – reconhecido por todos os povos do PIX como incentivador do cultivo de sementes tradicionais da roça kaiabi no território xinguano – falou sobre a importância e as dificuldades da atividade para os povos do Xingu.
Segundo ela, diferentemente dos fazendeiros, que dispõem de maquinário para os plantios, o trabalho dos coletores é manual e árduo, mas compensa, pois visa o reflorestamento das nascentes do rio de que todos os povos do Xingu dependem.
Além dos povos Kawaiwete e Kisêdjê, outras quatro etnias participam da Rede de Sementes do Xingu: no PIX: os Waurá, os Ikpeng e os Yudjá; e os Panará, da TI Panará.
A organização da atividade é bastante particular em cada comunidade. A diversidade cultural e logística dos grupos de coleta influencia no trabalho. O maior desafio é superar os gargalos técnicos e burocráticos para garantir as pretensões de cada núcleo de coletores.
Luta por direitos.
No último dia de discussões, o secretário de Saúde Indígena, do Ministério da Saúde, Antônio Alves, ouviu as reivindicações dos indígenas sobre as condições de atendimento médico nas Terras Indígenas Kayapó e nos distritos de saúde da região.
Os indígenas também discutiram a Portaria 303, da Advocacia-geral da União (AGU), que proíbe a ampliação de Terras Indígenas e libera obras nessas áreas sem consultar as populações afetadas.
Os debates resultaram em uma carta elaborada pelos indígenas dos 16 povos presentes, que foi entregue em Brasília à Fundação Nacional do Índio (Funai) e Procuradoria Geral da República (PGR) pelo cacique Akjabôrô Kayapó.
O texto manifesta o repúdio ao Governo Federal pelos retrocessos sistemáticos na política indigenista e exige a revogação imediata da portaria, o abandono de quaisquer projetos de barragens nas TIs, além de uma maior atenção do governo às atividades produtivas, a garantia de uma faixa de proteção genética no entorno das TIs, o tratamento digno de saúde e a inserção dos tratamentos tradicionais realizados pelos pajés no sistema público de saúde (leia a íntegra da carta).
Para os participantes do encontro, a I Feira Mebengokré de Sementes Tradicionais foi importante para mostrar que apenas a união dos povos indígenas é capaz de reverter as situações adversas enfrentadas no presente.
Fonte: ISA, Dannyel Sá.
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