quarta-feira, 9 de novembro de 2016
FUNAI implanta projeto de salvaguarda do patrimônio cultural de etnias de recente contato
O Comitê Diretor do "Projeto de Salvaguarda do Patrimônio Linguístico e Cultural de Povos Indígenas Transfronteiriços e de Recente Contato na Região Amazônica" realizou sua primeira reunião, nos dias 30 de outubro e 01 de novembro, no Museu do Índio (RJ), para definir questões relativas à composição e ao funcionamento da Unidade Gestora do Projeto - UGP, os critérios para indicação dos povos a serem contemplados pelo projeto, além da elaboração de um cronograma de trabalho para 2017.
Vinte projetos de documentação de línguas e de culturas serão desenvolvidos. De dez a vinte etnias deverão ser beneficiadas. O primeiro edital para contratação de especialistas e pesquisadores indígenas deverá ser publicado ainda em 2016.
Esse Projeto de Salvaguarda é resultado de Acordo de Cooperação Técnica Internacional entre a Fundação Nacional do Índio, a Agência Brasileira de Cooperação do Ministério das Relações Exteriores – ABC/MRE, e a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura – UNESCO, assinado em dezembro de 2015.
Composto pelos Diretores de Promoção ao Desenvolvimento Sustentável, Artur Nobre Mendes, de Proteção Territorial, Walter Coutinho Jr., e do Museu do Índio, José Carlos Levinho, todos da FUNAI, o Comitê Diretor trabalhará com o apoio da Coordenação-Geral de Promoção da Cidadania e da Coordenação-Geral de Índios Isolados e Recém Contatados também do órgão.
O projeto contará com a participação direta dos índios, incentivando os representantes de diferentes etnias a documentar aspectos específicos de suas culturas e línguas, por meio da promoção de oficinas de trabalho e concessão de bolsas de pesquisa para jovens em várias aldeias. O trabalho será desenvolvido em parceria com universidades e centros de pesquisa do País, sob a coordenação do Museu do Índio.
Com vasta experiência na execução de projetos de cooperação internacional, a FUNAI, por meio do Museu do Índio, coordenou, de 2009 a 2015, o Projeto de Documentação de Línguas e Culturas Indígenas, alcançando 105 aldeias de Norte a Sul do Brasil, beneficiando uma população de 27 mil índios. Um esforço nacional para proteger, reforçar e revitalizar as muitas línguas e culturas indígenas existentes no território brasileiro.
Fonte: Comunicação Social - Museu do Índio
terça-feira, 1 de novembro de 2016
Rituais Indígenas
Uma grande parte dos rituais realizados pelos diversos grupos indígenas do Brasil pode ser classificada como ritos de passagem. Os ritos de passagem são as cerimônias que marcam a mudança de um indivíduo ou de um grupo de uma situação social para outra. Como exemplo, podemos citar aqueles relacionados à mudança das estações, aos ritos de iniciação, aos ritos matrimoniais, aos funerais e outros, como a gestação e o nascimento.
Entre os Tupinambá – grupo indígena extinto que habitava a maior parte da faixa litorânea que ia da foz do rio Amazonas à ilha de Cananéia, no litoral paulista-, quando nascia uma criança do sexo masculino, o pai levantava-se do chão e cortava-lhe o umbigo com os dentes. A seguir, a criança era banhada no rio, após o que o pai lhe achatava o nariz com o polegar. Em seguida, a criança era colocada numa pequena rede, onde eram amarradas unhas de onça ou de uma determinada ave de rapina. Colocavam-se, ainda, penas da cauda e das asas dessa ave e, também, um pequeno arco e algumas flechas, para que a criança se tornasse valente e disposta a guerrear os inimigos.
O pai, durante três dias, não comia carne, peixe ou sal, alimentando-se apenas de certo tipo de farinha. Não fazia, também, nenhum trabalho até que o umbigo da criança caísse, para que ele, a mãe e a criança não tivessem cólicas. Três vezes por dia punha os pés no ventre da esposa. Nesses dias, o pai fazia pequenas arapucas e nelas fazia a tipóia de carregar a criança; tomava, também, o pequeno arco e as flechas e atirava sobre a tipóia, pescando-a depois com o anzol, como se fosse um peixe. Assim, no futuro, a criança caçaria ou pescaria. Quando o umbigo caía, o pai partia-o em pedacinhos e pregava-os em todos os pilares da oca, a fim de que o filho fosse, no futuro, um bom chefe de família. O pai também colocava aos pés da criança um molho de palha, que simbolizava os inimigos. Quando todas essas práticas tinham sido realizadas, a aldeia por inteiro se entregava às comemorações. Nesses dias, era escolhido um nome para o recém-nascido.
Através desse rito de incorporação, o pai assumia a paternidade e se reconhecia ao recém-nascido, um lugar na sociedade Tupinambá, como homem ou mulher.
Cabe destacar que nesses rituais ligados à gestação e ao nascimento não só a criança, como também seus pais, eram submetidos ao ritual de passagem. O reconhecimento da gravidez da mulher punha o pai e a mãe num estado de cuidados especiais, separando-os, de certo modo, pela maneira de se comportar, dos demais habitantes da aldeia. Ficavam, assim, segregados até que a criança nascesse e os ritos de sua incorporação fossem realizados, momento em que eles eram reintegrados à vida normal, desempenhando um novo papel social: pai e mãe de um novo membro da sociedade.
Bibliografia
Melatti, Julio Cesar. Índios do Brasil. Hucitec, 1980.
Maestri, Mário. Os senhores do litoral. Editora da Universidade/UFRGS, 1994
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