segunda-feira, 22 de outubro de 2012
Ato contra o genocídio Kaiowá Guarani, em Brasília
Sol de rachar logo após o meio dia. A Esplanada dos Ministérios amanheceu com cinco mil cruzes plantadas no coração do poder. Cinco mil vidas indígenas ceifadas, simbolizando o genocídio em curso e as décadas e séculos de decretos de extermínio e mortes planejadas. Cenário tétrico, que deveria comover os responsáveis pelos três poderes, em última instância pelo silencioso e continuado genocídio do povo Kaiowá Guarani do Mato Grosso do Sul.
Eliseu e Rose Kaiowá Guarani caminham por entre as cruzes como se estivessem caminhando entre cinco séculos de dominação, perseguições, invasões, expulsões e mortes. Seguram faixas que denunciam o genocídio desse povo e clamam por solidariedade: "Salve kaiowá Guarani"; "Em defesa do povo e das terras dos Kaiowá Guarani". Falam da violência que seu povo sofre nos dias atuais, quando várias lideranças foram assassinadas e outras estão seriamente ameaçadas pelo poder dos fazendeiros e do agronegócio.
Na medida em que o tempo foi passando mais e mais pessoas foram chegando, quase todas vestidas de preto, como gesto de luto e protesto. Nas camisetas o clamor contra o terrorismo dos poderes contra a vida e os direitos dos Kaiowá Guarani e demais povos indígenas do país ameaçados em perder direitos conquistados na Constituição e consagrados na legislação internacional. Existe uma verdadeira guerra contra as terras indígenas e o saque dos recursos naturais.
Imprensa e aliados foram se juntando à manifestação. Entidades de direitos humanos, indigenistas, parlamentares de plantão, em tempo de Congresso vazio. Até a veterana jornalista, que desde a década de setenta vem denunciando as violações dos direitos indígenas, se fez presente. Eliana Lucena foi e continua sendo uma aliada dos povos indígenas em nosso país, há mais de 40 anos.
Dentre os articuladores das ações estão o Conselho Federal de Psicologia, a Justiça Global, a Plataforma de Direitos Humanos, Sociais, Culturais e Ambientais (DHESCA) e o Conselho Indigenista Missionário.
Foi um grito forte da sociedade civil exigindo medidas imediatas e eficazes da parte dos três poderes para estancar o genocídio e garantir os direitos dos povos originários deste país. As falas foram neste sentido. Foram elencadas ações em curso para exigir providências do governo e do Estado brasileiro. Ações e denúncias estão sendo feitas na Organização dos Estados Americanos (OEA) e Organização das Nações Unidas (ONU). Por isso só com uma aliança ampla com a sociedade e a intensa mobilização dos povos indígenas poderá se dar um exitoso enfrentamento com os interessas anti-indígenas.
Dentre os participantes do ato vale destacar a presença solidária de Dom Enemésio Lazzaris, presidente da Comissão Pastoral da Terra, juntamente com outros representantes de órgãos de várias regiões do país.
O genocídio continua, mas também se consolidaram importantes alianças da causa e a esperança também avançou. A luta continua. A luta Kaiowá Guarani ganhou importante visibilidade. Os enfrentamentos se darão em diversos espaços. As cruzes fincadas no coração dos poderes certamente trarão resultados. Os povos resistentes à secular dominação são portadores de futuro e aliados de todos os marginalizados e empobrecidos deste país.
Enquanto isso as comunidades nas retomadas, nos acampamentos, nas aldeias, organizam a esperança, enfrentam os poderosos e lutam com as forças que lhes restam contra as políticas de morte e genocídio.
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