sexta-feira, 27 de maio de 2011

Cimi repudia assassinato de lideranças agroextrativistas no Pará

O Conselho Indigenista Missionário (Cimi) manifesta repudio pelo assassinato dos ambientalistas José Cláudio Ribeiro da Silva e sua esposa Maria do Espírito Santo Silva, na última terça-feira, 24 de maio, no Pará. A entidade se solidariza ainda com os familiares, amigos e lideranças que atuam em prol dos direitos humanos.
José Claudio, líder do Projeto Agroextrativista Praialta-Piranheira (PAEX), situado na comunidade de Maçaranduba, anunciou, em recente palestra, que vivia “com uma bala na cabeça”. Completou dizendo que talvez em um mês poderia “não existir mais”. Na última terça-feira, pela manhã, estava com a mulher, também líder social extrativista, quando dois pistoleiros desferiram vários disparos de armas calibre 38 e escopeta contra o casal – que estava de moto a caminho do município de Nova Ipixuna, sudeste paraense.
Os primeiros tiros atingiram Maria e fizeram a moto perder o controle e tombar numa vala. No chão, José Claudio foi executado à queima roupa. Os assassinos estavam de tocaia, atrás do mato, na cabeceira de uma ponte. Desde 2008, o casal de militantes sofria ameaças por conta das constantes denúncias que fazia contra madeireiros. Eles roubam castanheiras, angelins e jatobás da área delimitada para a PAEX e por conta disso encontraram resistência de José Claudio e Maria.
As ameaças foram relatadas aos órgãos de segurança do Estado. Homens não identificados costumavam rodear a casa dos líderes extrativistas e dar tiros para o alto – em algumas ocasiões matavam os animais que se encontravam na propriedade. As intimidações sempre coincidiam com situações de denunciais feitas pelo casal. O duplo assassinato soma-se aos outros vários cometidos por pistoleiros contra líderes sociais na região do Pará.
Há 24 anos em Nova Ipixuna, o casal integrava o Conselho Nacional dos Seringueiros(CNS). A organização foi fundada por Chico Mendes, também assassinado por pistoleiros, em 22 de dezembro de 1988. Por trás dessas mortes, estão madeireiros, latifundiários e fazendeiros interessados em devastar a floresta nativa. A PAEX tem como principal objetivo mostrar que é possível explorar os recursos naturais da floresta de forma sustentável, sem agredir a natureza. O terreno do casal possuía 22 hectares de bioma nativo, sendo que 80% são de área preservada.
Na PAEX estão 500 famílias que vivem numa área de 22 mil hectares. Além dos óleos vegetais, os integrantes da comunidade extraem o açaí e o cupuaçu e com isso garantem renda e a sobrevivência de todos. O assassinato do casal repercutiu internacionalmente, sobretudo porque ocorre num período em que a Câmara dos Deputados aprova proposta de novo Código Florestal e prevê a redução de áreas de preservação e anistia aos agricultores que desmataram hectares de vegetação nativa.
A Conferência Nacional dos Bispos (CNBB), regional Norte II, publicou mensagem em Belém, capital paraense, repudiando o assassinato e mostrando toda indignação contra a violência que atinge lideranças do campo. O texto da nota questiona a razão de nada ter sido feito para impedir o duplo assassinato posto que o casal comumente afirmava que sofria ameaça. “Sentimos que nossos gritos aos responsáveis pela apuração da denúncia não surtem efeito. A CNBB está extremamente preocupada com esta realidade (...) exigimos que as autoridades estaduais e federais investiguem com seriedade”.

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