terça-feira, 19 de abril de 2011

No mês do Índio, um texto especial



Vou contar uma história que diferentemente das outras não irá começar com o “Era uma vez” e para você saber o porquê basta acompanhar essa viagem com o seu coração, e juntos iremos descobrir a verdadeira essência do que é ser índio Tuxá. Você irá descobrir como viver feliz, cultivando o amor, respeitando o próximo como a si mesmo bem como a vivenciar as coisas do mundo com a força de Tupã.

Meus parentes indígenas ou não,
Como contar essa linda história sem
Está tomado pela emoção.
Sou do rio, ribeirinho sou Tuxá
E no Rio São Francisco do outro lado de lá
Encontrei o meu lugar a minha nação Proká
Rua Felipe Camarão, Ilha da Viúva vou recordar
Morada ao pé da serra que os caboclos
A índia bem pequenininha mandou chamar.

A nosa raiz está no Sorobabel, está na arte do rio
Enfrentando cachoeiras, descendo e subindo o rio
És ilha, alimento, paraíso, natureza, encanto e canto do rio.
Capitão João Gomes Apax Caramuru é raiz
Manuel de Souza é raiz
O pajé Armando Gomes dos Santos é raiz
Raul Valério é raiz
Manoel Novais é raiz
Manoel Eduardo Cruz “Bidú” é raiz
Vieira é raíz
Os tuxá sabem quem são essas raízes
E por isso nossa árvore tem raiz.
Vivenciamos as frentes pastoris e missionárias
Nossa aldeia surgiu de um dessas missões
A São João Batista de Rodelas, onde diferentes povos
Deram origem ao povo Tuxá.
Karirí, Acará, karuru, Xucuru
E a nossa voz Procá calada pelo chegar
Curraleiros, colonizadores, latifundiários da Casa da Torre, religiosos
Todos passaram por cá e hoje marcas tristes ainda temos que curar.
Capitão Francisco Rodelas deu nome ao lugar
Sua bravura e coragem fizerem o povo prosperar
Avisa capitão o dilúvio está chegando
O destino desse povo agora está em pranto

Não vou falar desse fato agora
A vida antes era tão boa que não cabe a tristeza agora
Meu Cari, meu Piau, meu Surubim, minha batata doce.
Minha capivara, camaleão muitas caças
Acompanhadas de contos de diversão.

Hoje, com boa parte da fauna e flora destruída
Digo a você “Progresso”
Você, quase que acaba com a minha vida
Eu tinha a minha roça a minha cebola e fartura de montão
Tinha canoa, barco a motor, a vela e a remo
Avistava meu serrote encantado ao extremo
Na ilha tinha trabalho, as lendas, e visões
Meu canto tem o Velho Chico, tem o Serrote
Meu São João Batista, por favor, me acode

Protetor dos Tuxá, que faz da nossa cultura
A religião católica e a crença indígena se misturar
Oi cabocla do mato só vem folgar
O toré e a jurema chamam os encantados
E vamos todos regimá
Vou dançando com meu canto entoando
Meus antepassados escutam meu maracá

Levanta o espírito Tuxá, que a coragem e alegria há de chegar
É só pisar o Toré com força e animação, para receber a benção
E os males espantar
Minha árvore sagrada é a juremá
Com ela faço o meu ritual o “particular”.
Que é o ponto forte da ciência Tuxá.
O contato com o homem branco
Fez até a nossa igreja se descolar
Se antes era voltada para a nossa aldeia
Agora para os invasores ela está a olhar
De protagonistas a coadjuvante da história local
Passamos a ficar, e até a minha morada eu a vi inundar
Nosso São João Batista continua a nos olhar
Acompanhando todas as mudanças
Enfrentadas pelos Tuxá.

Nossa cultura está cada vez mais forte
Da forma que o mundo está
Tentando nos iludir, mas sabemos ir e voltar
Não importa o meu rosto, minha roupa o meu cabelo
O que vale é ser para sempre um Tuxá guerreiro.
A inundação ocorreu em 1987
Tristeza, desolação e abandono
Tuxá, teve que enfrentar
Com lágrimas e sangue derramando.
E, no entanto, as águas da Barragem
A nossa cultura não conseguiu inundar.

Hoje tem a divisão que nos causa frustração
Tem tuxá em Rodelas, Ibotirama, Banzaê e Inajá
A distância não importa quando sabemos lutar
Lutar por dias melhores e para a união reinar.
Depois de mais de 20 anos da mudança para um novo território
No início dificuldades tivemos que enfrentar
Mas para os Tuxá nada é impossível e pode o aterrorizar
Organizar a vida e se adaptar são feitos históricos
Que a sociedade deve olhar com outro olhar
Não ficamos civilizados nem educados da forma deles
Apenas aprendemos o que nos é necessário para não ser inferior a eles

Nesse mundo infestado de injustiças e violências sem fim
O meu “Patrimônio Tuxá” nunca irão destruir
Minha identidade e tradição
Que muitos como uma estaca no peito
Perderam a noção, que o melhor da vida
É ser e lutar pelo o que manda o coração.

Que bom que moramos juntos

Que bom que estamos na luta com os nossos parentes

Que bom que respeitamos o íntimo do ser humano

Que bom que temos os mais velhos sábios, de conhecimentos sem fim.

Que bom que na nossa aldeia tem mulheres guerreiras

Que bom que temos crianças e jovens apaixonados pela nossa cultura

Que bom que temos mostrado para o mundo que os Tuxá

Tem consciência que não há como mudar o início da história

Ou viver sem denunciar as mazelas sofridas pelos indígenas

Nós não podemos mudar o começo
Mas o que se tem visto é que os Tuxá estão construindo
Um novo fim…

De realizações, vitórias, sonhos reais, construção coletiva, parcerias, integridade, solidariedade, humanismo, sabedoria, conquistas, respeito e amor a causa Indígena e a nossa mãe terra.

Dessa forma nos podemos bater no peito e gritar!!!

“Somos Índios da Tribo Tuxá Nação Proká Pragaga do Arco e Flecha e Maracá Malacutinga Tuá Deus do Ar”.



Autor: Jandair Ribeiro de Oliveira – Tuxá
Graduando de Pedagogia da UEFS.

Membro do Conselho de Desenvolvimento e Participação das Comunidades Negras e Indígenas de Feira de Santana-CONDECINI.
Secretário Geral do DCE/UEFS.
Membro do Núcleo dos Estudantes Indígenas Universitários da Bahia-NEIUB.

Jandair-Tuxá: (75) 8862- 0417.

Nenhum comentário:

Postar um comentário