sexta-feira, 25 de junho de 2010

MORTE E VIDA DOS XUKURU DO ORORUBÁ

A morte de Uelson José de Araújo, conhecido como Gordo, na tarde do dia 9 de junho último, num grave acidente de moto na PE-217, estrada que corta a terra indígena Xukuru, causou grande consternação na comunidade Xukuru. Com 30 anos, depois do assassinato de seu pai, o conhecido cacique Xicão, Gordo passou a colaborar com sua mãe Zenilda e com seu irmão, Marquinhos, que se tornara cacique. Era o atual presidente da Associação Indígena Xukuru do Ororubá.
Essa morte foi mais um golpe na comunidade Xukuru, que não teve ainda as feridas fechadas pela morte de seu grande cacique Francisco de Assis Araújo, o Xicão Xukuru.
Este líder teve uma vida sofrida como a de muitos indígenas do Nordeste. Nascido em 1950, em Canabrava (PE), passou sua infância na aldeia, que se localiza nas terras dos Xukuru, então bem reduzidas.
Do antigo Aldeamento dos Tapuias Chururus, da freguesia de Ararobá, dirigida pelos padres Oratorianos (Informação geral de Pernambuco, 1749), pouca coisa restava. Com a lei de 1757, do marquês de Pombal, os jesuítas foram expulsos e o aldeamento tornou-se vila portuguesa, recebendo o nome de Cimbres.
As terras foram invadidas por luso-brasileiros que iam ocupando a região. Nem a participação de um grupo Xukuru na guerra do Paraguai, no século 19, garantiu a volta das terras indígenas, pois o aldeamento já era considerado extinto. Ficara para os indígenas apenas a festa de Nossa Senhora das Montanhas, chamada por eles Tamain, que ocorria no dia 2 de julho.
A vida da comunidade ficava cada vez mais difícil: parte da área tornou-se cidade de Pesqueira e parte continuava ocupada por posseiros e fazendeiros poderosos, como os Brito e os Maciel. Por isso muitos jovens tiveram que sair, como foi o caso de Xicão, que partiu para São Paulo, onde se tornou motorista de caminhão.
Apesar de ser uma profissão que dava para ganhar dinheiro, era uma atividade muito estressante. Vivendo na Vila Maria, como muitos nordestinos, além do dinheiro, ganhou uma úlcera gástrica. Isto o levou de volta para a aldeia no início dos anos 80, indo parar na Santa Casa de Recife. Lá encontrou outros indígenas, como João Tomaz, pajé Pankararu, e Antonio Celestino, pajé do povo Xukuru-Kariri, de Alagoas, que também estavam internados. O pajé Celestino disse para Xicão sair de lá, pois na aldeia se curaria mais rapidamente. Assim ocorreu. Não só ficou curado, como também foi convencido de que tinha uma missão para cumprir: ajudar na luta pela recuperação da terra Xukuru.
A pressão ficou cada vez maior e aos poucos a área foi sendo recuperada.
A primeira retomada foi a de Pedra D’Água, em novembro de 1990, que posseiros haviam arrendado ilegalmente. Era uma área importante, pois ali se encontrava a Pedra Sagrada do Reino de Ororubá, ponto religioso de referência para os Xukuru. Em fevereiro de 1992 retomaram a fazenda Caípe de Baixo, invadida por um fazendeiro e vereador do então PFL.
A tensão aumentava. Como represália, foi assassinado o filho do pajé, a mando do fazendeiro Edvaldo de Farias. Revoltados, os Xukuru incendiaram a sede da fazenda, aproveitando a fuga do fazendeiro. Outras retomadas aconteceram em 1994 e 98.
Xicão preocupava-se também com a aldeia, apoiando a escola e as festas tradicionais: “Nós podemos fazer nossa viagem eterna”, dizia ele, “mas nossos filhos e nossos netos precisam viver nesta terra, e temos que prepará-los para dar este seguimento”.
Em meados de 1998 houve uma primeira morte: foi assassinado o advogado defensor dos índios, Dr. Geraldo Rolim da Mota Filho, Procurador da Funai.
Xicão também passou a ser jurado de morte. Alguns dias antes de morrer, num ato contra a violência na região, declarou: “Sou ameaçado de morte e pode ter político atrás disso. (...) Pesqueira tornou-se uma praça de guerra. Estão querendo fazer comigo o mesmo que fizeram com Antônio Conselheiro e com Che Guevara. Se este for meu destino, não vou recuar. Não vou guardar ódio de ninguém.”
No dia 20 de maio de 1998, quando se encontrava em Pesqueira, Xicão tombou, assassinado por um pistoleiro, a mando de fazendeiros da região, que formaram um consórcio para financiar este crime.
Sua mensagem foi retomada pela comunidade, pela forte liderança de Zenilda, sua esposa, e por seus filhos Marquinhos, atual cacique, e Gordo. Apesar desta última morte, luta de Xicão continua ainda inspirando a luta de todos os indígenas do Brasil e o dia 20 de maio é uma data de referência na luta dos povos indígenas do Nordeste.
Fonte: Tv Indigena

Um comentário:

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